
Tanta gente habita o Mundo, mas só uma pequena parte se assanha com essa a que chamas arte divina - falou ele. - O restante, portanto, é composto de idiotas! E por que idiotas, ou bárbaros? Porque não ligam para uma fábrica de zoada! Achas que, se eu gozo, tenho que sair apregoando? Se me sinto alegre ou triste, tenho que espalhar minha alegria ou tristeza entre os outros? Ou se tenho ódio, revolta, desejo de matar, amar, fugir, chorar, ou sinto medo, ciúme, inveja, tenho direito de fazer que os demais compartilhem do que sinto? E por que arte divina? Acaso tu és um Deus? Juntas um badalo com um bombo, uma corneta, uma guitarra, um violino fanhoso e outras coisas mais, te pões a berrar uma engrolada fedorenta e tens o desplante de achar que o Mundo inteiro deve escutar, só porque achas isso divino! Desde quando a música divina faz barulho? Estás pensando nas trombetas de Jericó, soprada por um bando de rapinantes, ou nos badalos dos sinos? Olha, vem comigo, venham todos e tentemos encontrar um lugar silencioso. Entre duas manias, essa é a melhor.
(COSTA, Agnor Lincoln da. O livro que Eu queria ler. Brasília: LGE, 2005, p. 70)
Nenhum comentário:
Postar um comentário