domingo, 30 de agosto de 2009

ORVIL: UMA EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA



Ao iniciarmos as pesquisas para este trabalho, nosso objetivo era estudar os fatos que compoem esse episódio entre os, anos de 1967 e 1973. Pelo conhecimento que tínhamos, tal período enquadrava os anos em que a luta havia sido mais acirrada e violenta.

Para a compreensao dessa luta, foram suscitadas muitas perguntas: Como se formaram? Qual a inspiração ideológica? Quais os objetivos das organizações subversivas nela empenhadas? Qual o caráter da revolução que pretendiam fazer? Quais as experiências externas que procuraram apreender? Quais os modelos e métodos revolucionários que tentaram transplantar para nosso pais? Como se estruturaram? Como se compunha sua infra-estrutura de apoio, de inteligência, etc.? Em que segmentos sociais e de que forma recrutavam seus quadros e como os formavam no País e no exterior? O que buscavam ao perpetrar assaltos, seqüestros, assassinatos e outras formas cruentas de terrorismo? Que objetivos alcançaram com essas ações?

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Era de nosso conhecimento, por exemplo, que a primeira das organizações da esquerda revolucionária havia surgido em 1961 e que outras tiveram origem no período que medeia esse ano e 1967. Sabíamos, também, que quase todas as organizações haviam surgido ou se formado em oposição à linha política do PCB, tentando ser, cada uma delas, uma alternativa a ele. Sabíamos, portanto, que para conhecer as causas dessas divergências e compreender as dissidências, cisões e fusões, que caracterizaram o período de que nos ocuparemos prioritariamente, teríamos que recuar no tempo, pelo menos até 1956 -- ano em que se realizou o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), que foi a geratriz das mais sérias discordâncias no Movimento Comunista Internacional. A rigor, esse entendimento teria que nos fazer retroceder até o ano da fundação do Partido Comunista - Seção Brasileira da Internacional Comunista (PC-SBIC).

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O recuo ao passado colocou-nos diante de uma outra visão: a do processo mais amplo da subversão que se materializa em nosso País, na seqüência dessas tentativas de tornada do poder pelos comunistas, nas suas diferentes formas. Se a extrapolação do limite anterior do período inicialmente fixado mostrou-se importante, muito mais o seria no seu outro extremo, buscando uma visão além de 1974 - uma visão do hoje. Ai tivemos a percepção nítida daquilo que consubstancia a quarta tentativa da tomada do poder.

Essa tentativa de fato já teve início há alguns anos. Vencida na forma de luta que escolheu - a luta armada - a esquerda revolucionária tem buscado transformar a derrota militar que lhe foi imposta, em todos os quadrantes do território nacional, em vitória política.

Após a autocritica, uma a uma das diferentes organizações envolvidas na luta armada, concluíram que foi um erro se lançarem na aventura militarista, sem antes terem conseguido o apoio de boa parte da população. A partir desse momento, reiniciaram a luta para a tomada do poder mudando de estratégia.

Ao optarem por essa mudança, colocaram-se lado a lado com a esquerda ortodoxa, de que divergia desde os últimos anos da década de cinqüenta, vendo-se perseguindo os mesmos objetivos táticos e valendo-se das mesmas técnicas e processos. Nessa fase, encontraram ainda um poderoso aliado, o clero dito "progressistal", que pouco a pouco tirara a máscara e propugnava por uma "nova sociedade", igualitária e sem classes, uma sociedade também socialista.

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Assim, sem nos desviarmos da luta armada - a terceira tentativa de tomada do poder, cuja história ainda não foi escrita -, faremos numa primeira e segunda partes deste livro uma retrospectiva dos pontos essenciais, respectivamente da primeira e segunda tentativas de tomada do poder. Aliás, o fracasso de uma tentativa é sempre uma das causas e o ponto de partida para a tentativa seguinte. Daí, também, a importância desse conhecimento anterior para a compreensão da luta armada. Finalmente, esperamos que as informações que transmitiremos ao longo deste trabalho e as conclusões que comporão uma quarta parte do livro sejam suficientes para que o leitor faça a sua própria avaliação da quarta tentativa de tomada do poder, para nós a mais perigosa e, por isso, a mais importante.

Se conseguirmos transmitir essa percepcão final para nossos leitores, teremos atingido nosso objetivo e ficaremos com a certeza de haver conseguido prestar uma simples mas a mais significativa das homenagens que poderiamos oferecer aos companheiros que tombaram nessa luta, hoje esquecidos e até vilipendiados. Suas mães, esposas, filhos e amigos já não terão dúvidas de que eles não morreram em vão. Porque, ao longo da história, temos a certeza de que a Pátria livre, democrática e justa será reconhecida a todos os que se empenharam nesse combate.

O Coordenador da equipe de pesquisa e redação.

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