
Nas palavras de Debussy, tratava-se de uma "ilustração muito livre de um poema" de Mallarmé, O Entardecer de um Fauno. A princípio, ele planejou a obra em três partes; no entanto, só o prelúdio se concretizou. A influência do pensamento simbolista sobre o compositor francês o fez preferir a alusão e o universo onírico à narratividade, em voga na Europa graças à obra de Wagner.
Esse universo de "situações sucessivas pelas quais se movem os desejos e sonhos de um fauno" pedia uma música de formas elásticas. A famosa introdução de flauta, por sua vez, brinca com a dubiedade tonal. Sinuosa, ela flutua para cima e para baixo entre notas adjacentes, deixando pairar por um tempo a dúvida: a música está em tom maior (de sonoridade mais alegre) ou menor (mais melancólica)? Some-se a isso uma orquestração luminosa, sem grandiosidade, que ressalta o som de cada instrumento, e a atmosfera de sonho estava criada.
Mallarmé não gostava que compositores musicassem seus poemas, mas aprovou o Prelúdio, dizendo que ele prolongava a emoção do poema (Bravo! especial: 100 obras essenciais da música erudita. São Paulo: Ed. Abril, set. 2008, p. 36).

Foi o compositor da poesia simbolista. (...) Escreveu para orquestra o Prélude à l'aprés-midi d'un faune (1894), ilustrando (sem "programa", naturalmente) o poema de Mallarmé: sua primeira obra inteiramente impressionista e, até hoje, a mais famosa e executada; a que causou maior estranheza na época (pela "falta de melodia") e que ainda hoje é capaz de assustar os não-iniciados. (...)
Um biógrafo inglês de Debussy, examinando a repercussão da música do mestre, chegou ao resultado paradoxal de que Debussy quase não tem discípulos. É um paradoxo porque raramente na história da música um compositor teve repercussão tão vasta, na Europa ocidental e entre os eslavos e outras nações da Europa oriental e nas Américas. E também foi uma influência profunda, modificando o modo do próprio pensamento tonal. Mas é verdade que se trata antes de fermentação e fertilização do que de imitação, mesmo tomando-se este último termo em sentido pejorativo. Pois a música de Debussy é personalíssima, singular, inimitável. Não pode haver outro Debussy. Nesse sentido, aquele crítico inglês tem razão: não há "escola de Debussy". Nem sequer na própria França (CARPEAUX, Otto Maria. Uma nova história da música. 3ª ed. Rio de Janeiro: Alhambra, 1977, pp. 271-273).
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