Resistente antinazi detido em 1945, Kazimierz Moczarski ficou preso durante cerca de 225 dias na mesma cela que o general das SS Jürgen Stroop, que comandou a liquidação do Gueto de Varsóvia em 1943. Libertado, pôde relatar esse confronto (Ver Entretiens avec le bourreau, Gallimard, 1979.)
Kazimierz Moczarski Prisioneiro condenado à prisão perpétua (Art. 2 do decreto de 31 de Agosto de 1944)
Sztum, prisão central
23 de fevereiro de 1955
Supremo Tribunal Câmara Penal
Ref.: III K 161/52
Na seqüência do pedido excepcional de reabertura e revisão do meu processo, apresentado já pelos meus advogados (...), declaro:
Durante a investigação levada a cabo pelo oficial do ex-Ministério da Segurança Pública, fui sujeito, de 9 de janeiro de 1949 a 6 de Junho de 1951, a quarenta e nove tipos de agressões e de tortura, entre as quais posso revelar as seguintes:
1. Agressão com matraca de borracha em partes particularmente sensíveis do corpo (cana do nariz, queixo, glândulas salivares e partes salientes, como as omoplatas).
2. Chicotadas, muito dolorosas, administradas com chicote coberto por borracha nos pés e artelhos.
3. Pancadas com matraca de borracha nos calcanhares (série de 10 em cada calcanhar, várias vezes por dia).
4. Cabelos arrancados nas têmporas e na nuca ("depenar o ganso"), da barba, do peito, do períneo e dos órgãos sexuais.
5. Queimaduras com cigarros nos lábios e nos olhos.
6. Queimadura dos dedos e das duas mãos.
7. Privação de sono: durante sete a nove dias o preso era obrigado a permanecer de pé na cela escurecida, era acordado com murros na cara (...). Este método, denominado "praia" ou "Zakopane" pelos oficiais instrutores do processo, provocava um estado próximo da demência; o preso sofria de alucinações: visões com cores e som, próximas das provocadas pela mescalina e pelo peyotl.
Refiro também que durante seis anos e três meses fui privado do direito ao recreio (sic). Durante cerca de dois anos e dez meses não tomei banho; permaneci em isolamento durante cerca de quatro anos e meio, sem qualquer possibilidade de contacto com o mundo exterior (sem notícias da minha família, sem correio, sem livros, sem jornais, etc.).
As torturas e tormentos que aqui referi foram-me inflingidos entre outros pelo tenente-coronel Dusza Jozef, pelo comandante Kaskiewicz Jerzy e pelo capitão Chimczac Eugeniusz no intuito de me aterrorizarem e de me extorquirem confissões falsas mas necessárias para confirmar a linha das investigações e as acusações anteriormente feitas.
Actuavam sob as ordens do coronel Rozanski, do coronel Fejgin e do vice-ministro, general Romkowski que me disse, a 30 de novembro de 1948, que iria ser alvo de uma "investigação infernal", o que efectivamente se veio a verificar (...). (Cahiers historiques, nº 53, Paris, 1980)
(...) Os combatentes da resistência eram condenados como colaboracionistas. A lógica comunista baseava-se no princípio de que "os que não são por mim são contra mim". Assim, a principal força de resitência organizada contra os Alemães, o Exército Nacional (AK), que não tinha lutado ao lado dos Soviéticos contra os Alemães, era considerado um aliado de Hitler. Para dar peso a esta afirmação iníqua, os funcionários da Gestapo detidos produziam confissões falsas, que serviam de base a condenações de polacos.
(COURTOIS, Stéphane [et al]. O livro negro do comunismo: crimes terror e repressão. Tradução de Maria da Graça Rego e Lila V. 4ª ed. Lisboa: Quetzal, 1999, pp. 429-430)
Kazimierz Moczarski Prisioneiro condenado à prisão perpétua (Art. 2 do decreto de 31 de Agosto de 1944)
Sztum, prisão central
23 de fevereiro de 1955
Supremo Tribunal Câmara Penal
Ref.: III K 161/52
Na seqüência do pedido excepcional de reabertura e revisão do meu processo, apresentado já pelos meus advogados (...), declaro:
Durante a investigação levada a cabo pelo oficial do ex-Ministério da Segurança Pública, fui sujeito, de 9 de janeiro de 1949 a 6 de Junho de 1951, a quarenta e nove tipos de agressões e de tortura, entre as quais posso revelar as seguintes:
1. Agressão com matraca de borracha em partes particularmente sensíveis do corpo (cana do nariz, queixo, glândulas salivares e partes salientes, como as omoplatas).
2. Chicotadas, muito dolorosas, administradas com chicote coberto por borracha nos pés e artelhos.
3. Pancadas com matraca de borracha nos calcanhares (série de 10 em cada calcanhar, várias vezes por dia).
4. Cabelos arrancados nas têmporas e na nuca ("depenar o ganso"), da barba, do peito, do períneo e dos órgãos sexuais.
5. Queimaduras com cigarros nos lábios e nos olhos.
6. Queimadura dos dedos e das duas mãos.
7. Privação de sono: durante sete a nove dias o preso era obrigado a permanecer de pé na cela escurecida, era acordado com murros na cara (...). Este método, denominado "praia" ou "Zakopane" pelos oficiais instrutores do processo, provocava um estado próximo da demência; o preso sofria de alucinações: visões com cores e som, próximas das provocadas pela mescalina e pelo peyotl.
Refiro também que durante seis anos e três meses fui privado do direito ao recreio (sic). Durante cerca de dois anos e dez meses não tomei banho; permaneci em isolamento durante cerca de quatro anos e meio, sem qualquer possibilidade de contacto com o mundo exterior (sem notícias da minha família, sem correio, sem livros, sem jornais, etc.).
As torturas e tormentos que aqui referi foram-me inflingidos entre outros pelo tenente-coronel Dusza Jozef, pelo comandante Kaskiewicz Jerzy e pelo capitão Chimczac Eugeniusz no intuito de me aterrorizarem e de me extorquirem confissões falsas mas necessárias para confirmar a linha das investigações e as acusações anteriormente feitas.
Actuavam sob as ordens do coronel Rozanski, do coronel Fejgin e do vice-ministro, general Romkowski que me disse, a 30 de novembro de 1948, que iria ser alvo de uma "investigação infernal", o que efectivamente se veio a verificar (...). (Cahiers historiques, nº 53, Paris, 1980)
(...) Os combatentes da resistência eram condenados como colaboracionistas. A lógica comunista baseava-se no princípio de que "os que não são por mim são contra mim". Assim, a principal força de resitência organizada contra os Alemães, o Exército Nacional (AK), que não tinha lutado ao lado dos Soviéticos contra os Alemães, era considerado um aliado de Hitler. Para dar peso a esta afirmação iníqua, os funcionários da Gestapo detidos produziam confissões falsas, que serviam de base a condenações de polacos.
(COURTOIS, Stéphane [et al]. O livro negro do comunismo: crimes terror e repressão. Tradução de Maria da Graça Rego e Lila V. 4ª ed. Lisboa: Quetzal, 1999, pp. 429-430)
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